quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Poção Mágica

A dupla de popstars da música sertaneja brasileira Zezé di Camargo e Luciano foi ao Programa do Jô na semana passada esclarecer a briga que os dois tiveram durante um show num teatro aqui em Curitiba, na semana anterior. Luciano explicou que na ocasião, após uma desavença com o irmão, ingeriu álcool e tomou Rivotril (remédio para ansiedade) para dormir. Ao combinar a bebida alcoólica, um ansiolítico e um outro medicamento que utiliza regularmente como diurético, foi parar na Unidade de Terapia Intensiva de um hospital da cidade e escapou por muito pouco da morte.


É cada vez mais comum o uso de medicamentos para dormir, relaxar ou esquecer os problemas, como fez o Luciano. Mas as pessoas se esquecem que estes medicamentos são controlados e seu consumo pode oferecer outros riscos à saúde.

Os medicamentos em geral devem ser utilizados pelas pessoas para tratar de doenças diagnosticadas previamente pelos médicos. Os remédios para ansiedade ou calmantes, no entanto, têm sido facilmente receitados pra aliviar a tensão pré-menstrual, controlar o apetite ou “provocar” o esquecimento de problemas, crises ou dificuldades.

A revista Superinteressante de Julho de 2010 apontou dados importantes sobre o uso de medicamentos como o Rivotril (Lexotan, Diazepan, entre outros). Estes medicamentos são considerados “tarja preta” por oferecerem risco de dependência. Isso quer dizer que após seu uso por um período de tempo, a interrpução repentina do tratamento pode trazer síndrome de abstinência para quem os usa. Entende-se por síndrome de abstinência o conjunto de alterações físicas, químicas e psicológicas que o indivíduo sofre ao abandonar um vício. A reportagem menciona ainda que o Brasil é o maior consumidor de Rivotril do mundo. Do ponto de vista psicológico, o uso destes medicamentos esconde temas importantes que podem ser desenvolvidos em terapia e proporcionar superação para quem sofre.

É preciso deixar claro que em muitos casos de confusão mental estes mesmos medicamentos podem ter uma função muito importante, organizando quimicamente o paciente para que ele possa ter condições de ter uma vida normal, sem ansiedade ou estresse. O problema é o abuso desses medicamentos psicotrópicos sem orientação médica adequada, que acaba mascarando as causas do sofrimento que em sua maioria são de ordem psicológica.

Existe muita contradição nesse tipo de atitude dos brasileiros. Parece que para muitos é mais fácil tomar um remédio a se comprometer em buscar ajuda para uma dificuldade real. Ainda que este alívio momentâneo traga sério risco à saúde ou até perigo de morte. É uma espécie de “tapar o sol com a peneira”, uma fuga, um adiamento por tempo indeterminado da necessidade de enfrentar esses problemas.

A psicologia pode trazer a ajuda necessária para que os problemas sejam encarados de frente, sentidos e transformados pelo paciente. Entrar “de cabeça” nos problemas e desenvolvê-los internamente em geral é a única possibilidade de superá-los. E os medicamentos não têm este poder. Só o próprio indivíduo pode ter controle das suas dificuldades a partir da ajuda do profissional de psicologia.

As verdadeiras soluções para os problemas só poderão aparecer a partir do seu enfrentamento. E para isso, a psicologia pode ser uma ferramenta muito importante. Até porque não existe ainda na medicina uma poção mágica que faça desaparecer todos os nossos problemas e todas as coisas que nos afligem. Ainda bem.

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